Planetário de Brasília
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Setor de Difusão Cultural Via N1, St. de Divulgação Cultural - Eixo Monumental, Brasília
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O Dr. Ricardo Dal Farra é professor de música e artemídia no Departamento de Música da Concordia University, Canadá e diretor fundador do Centro de Pesquisa Eletrônica de Artes de UNTREF (CEIArtE), Argentina. Foi diretor do Centro Hexagram de Pesquisa-Criação em Artemídia e Tecnologia, Canadá; Diretor do programa de Comunicação Multimídia no Ministério Federal da Educação, Argentina; Pesquisador e consultor em artes de mídia para a UNESCO, França. Dal Farra foi curador e jurado de vários eventos de fulldome, e ele também é o diretor-fundador da série de conferências internacionais Balance-Unbalance and Understanding Visual Music.
A percepção humana do tempo e do espaço pode mudar diante de múltiplas circunstâncias. Ilusões tanto auditivas quanto visuais podem estar além do nosso entendimento, causando alguma vezes certa confusão. Mas elas também abrem caminhos para explorar novas dimensões ou até mesmo para criar mundos alternativos.
Uma viagem através do continuum espaço-temporal pode ser mostrada de múltiplas maneiras e pelo uso de uma diversidade de escalas. Como nos movemos através do espaço e do tempo, estes podem ser objeto de infinitos projetos. O mesmo pode ser dito em relação ao porque nos movemos e sobre o que nos interessa mover. O sonho de termos uma máquina do tempo faz parte de nosso imaginário tão longínquo quanto o de podermos nos teletransportar, mas tenha cuidado… alguns sonhos se tornam realidade! Provavelmente, pensamos que o holodeck do Star Trek era algo completamente irreal e impossível. Ainda assim, há décadas tem sido usado como uma metáfora importante para a abordagem de uma série de assuntos, desde a física até a midiarte, da psicologia até a biologia, e assim por diante.
O teletransporte trata da transferência de matéria ou energia entre dois pontos diferentes sem atravessar o espaço físico que os separa. The Telegraph publicou em 2016 que a Rússia pretendia desenvolver o teletransporte em 20 anos, e este ano o professor Ronald Hanson, da Universidade de Tecnologia de Delft nos Países Baixos, afirmou que “não existe uma lei fundamental da física que impeça” sua realização. De fato, ele e sua equipe foram capazes de teletransportar informações quânticas entre dois pedaços de diamantes colocados a poucos metros um do outro.
Nossa capacidade imersiva vem da estrutura biopsíquica que desenvolvemos e, também, da nossa experiência cultural. Ela faz parte das expectativas da atualidade e está condicionada pelas nossas vivências. Não há padrões para medirmos a imersividade.
Se a imersão já é um conceito um tanto nebuloso quando diretrizes específicas e pragmáticas precisam ser dadas para produzir um trabalho individual, as regras para proporcionar uma experiência coletiva em ambiente fulldome de grande dimensão, como um planetário, mostram-se ainda mais complexas e difusas. Juntamente com o número de quadros por segundo, resolução das imagens e tamanho da tela de exibição, campo de visão e de observação, outros aspectos, como atenção, memória e fatores sociais, também desempenham um papel decisivo nos novos ambientes virtuais imersivos. Motivação, afeto e diferenças individuais são elementos-chave a se considerar.
A qualidade da imersão pode afetar a percepção de uma apresentação e os fatores humanos (psicofísicos) são fundamentais na apreensão de uma simulação. Devido ao duplo sentimento de estarmos sozinhos e, ao mesmo tempo, compartilharmos o espaço com outras pessoas, os ambientes imersivos coletivos são uma experiência muito mais complexa do que os individuais, isto, pelo menos, quando participamos de algumas apresentações em fulldome. Nela, o mundo inteiro pode parecer estar se movendo acima e ao nosso redor, as imagens e os sons podem enganar nossos sentidos e compreensão por um instante, ou talvez por muito tempo. Além dos movimentos exteriores que nos circundam, também podemos mexer nossa cabeça de várias maneiras, adicionando um alto nível de complexidade às tentativas de explicar com métodos e técnicas simples os melhores procedimentos para alcançar resultados específicos em ambientes imersivos. Sob condições controladas podemos mensurar o ângulo mínimo de um determinado movimento que permita perceber diferenças audíveis, o mesmo se aplica à resolução da visão espacial, mas criar uma realidade virtual coletiva – simulando um mundo existente ou alternativo – vai além do que pode ser facilmente calculado e previsto.
Se o tempo é uma ilusão, se ele é relativo e pode ser diferente dependendo do observador, a estrutura de quatro dimensões chamada de espaço-temporal, torna-se não apenas um conceito de difícil compreensão para o senso comum, mas, simultaneamente, apresenta-se como uma oportunidade para os artistas e pesquisadores explorarem uma ampla gama de situações e/ou criar (simular) praticamente tudo, considerando e imaginando qualquer escala possível (e impossível).
(texto original em inglês: Ricardo Dal Farra – tradução para português: Luiza H. Guimarães)